quarta-feira, 9 de março de 2011

Geração à rasca

Não sei se já ouviram falar de uma iniciativa, que nasceu no facebook, mobilizando os jovens portugueses residentes cá ou no estrangeiro a participarem num protesto este sábado. Intitulam-se os “jovens à rasca”.
Pois bem, não sendo à partida entusiasta de todas as manifestações que têm abundado pelo nosso país, pois verifica-se que por diversas vezes, o propósito do protesto é delegado para 2º plano, vendo por diversas vezes, nos ecrãs televisivos entrevistas a jovens descerebrados e vazios de conteúdos que chegam a afirmar orgulhosamente “ Eu nem sei por que é que aqui estou, foi só para não aturar os profs!”, como cheguei a ouvir uma certa vez.
Este tipo de jovens desiludem-me, não me revejo neste tipo de pessoas que se encontram quase como que anestesiados dos seus futuros problemas, que se demitem de toda a responsabilidade pessoal e colectiva de fazer algo construtivo, de dar o seu contributo útil à sociedade.
No entanto, se por um lado não me revejo nestes jovens que acabei de descrever, por outro, não deixo de me identificar com este movimento que aproxima os jovens à rasca num país que não alberga e não acarinha o novo talento e o novo futuro. É verdade que o acesso ao ensino superior se banalizou, que há muitos cursos sem saídas profissionais (que neste momento a lista vai engrossando a um ritmo vertiginoso!), que há muitos jovens apáticos que ficam em casa à espera que um emprego os atinja enquanto deitados num sofá como que um meteorito, mas não nos esqueçamos que apesar de tudo isto, a verdade é que há muitos e capazes jovens, que se vêm obrigados a emigrar para exercer a profissão na qual andaram a investir anos da sua vida.
Todos os trabalhos são dignos, mas não é nenhum crime almejar algo que se investiu tempo, dinheiro e sacrifício. Esperar um retorno é uma expectativa legítima e compreensível. E neste momento o nosso país é de facto pequeno para os jovens recém- licenciados com sonhos de vingar na vida.
Considero-me uma priveligiada. Nunca estive na corda bamba sem emprego e desde que acabei o curso ainda não parei de trabalhar. Não estou na área na qual investi o meu tempo durante 4 anos de curso e talvez nunca venha a utilizar por inteiro os conhecimentos que lá adquiri mas o facto é que, nesta geração, estando os padrões de comparação tão baixos, sinto-me bastante feliz por ter um considerado “bom emprego”.
Noutras circunstâncias, talvez não fosse bem isto, talvez me aventurasse por outras áreas, mas o segredo da felicidade é a motivação nas pequenas coisas na vida, ver sempre as coisas pelo lado positivo. Sim, não foi o emprego que sempre sonhei mas que acabei por gostar e ser recompensada por estranhamente não ter a mesma área de formação, por acrescentar algo extra nas reuniões com os meus clientes, por utilizar ainda que em pequena escala, alguns dos conhecimentos que adquiri no meu curso de Relações Internacionais.
E assim vai vivendo a “Geração à rasca”, adaptando-se como pode aos novos tempos. Uns emigram buscando no mundo o alimento aos seus sonhos, outros vão agarrando oportunidades por cá, umas melhores outras piores, e alguns decidem prolongar os seus estudos, adiando a decisão de entrar no mercado de trabalho.
De qualquer forma, esta é verdadeiramente uma geração que se tenta desenrascar como pode à espera de melhores dias numa pátria de história, lendas e paixão que albergou tantas personalidades que construíram a ideia do espírito português.


P.

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